Júlio de Arouce (pseud. de João Elisiário de Carvalho Montenegro, 1824-1914

O Comendador Montenegro tinha uma assinatura de 10 exemplares do Arquivo Pitoresco, que distribuía anualmente  pelos 10 melhores alunos da Lousã (JAMS)

 

 

 

ARQUIVO PITORESCO (AP)1. Semanário ilustrado de qualidade gráfica notável. Publicou-se em Lisboa de 1857 a 1868 e teve boa aceitação em Portugal e no Brasil. Inseriu centenas de gravuras e textos de escritores nacionais populares na sua época, sofrendo apenas uma interrupção (10 – 11- 1858 a 19 – 2 – 1859).

A coleção completa tem 11 volumes (in folio). Publicaram-se 52 fascículos [por ano]. Nos índices, organizados por ordem alfabética, os textos acompanhados de gravuras estão assinalados.

Pertenceu à empresa Castro Irmão e C.ª Lda., cujos proprietários foram considerados, no tempo, os mais dedicados promotores da gravura em

madeira. Os redatores foram José de Torres (1827-1874), Francisco Pereira de Almeida (1827-1898), F. A. Nogueira da Silva (1830-1868), António Feliciano de Castilho (1800-1875) e António da Silva Túlio (1818-1884) que

dirige o periódico até ao fim de 1865. Seguem-se Inácio de Vilhena Barbosa

(1811-1890) e Pedro Venceslau de Brito Aranha (1833-1914). Entre 1864 e

1866 saiu o Anuário do Arquivo Pitoresco (AAP)2, redigido por Manuel Pinheiro Chagas, Brito Aranha, entre outros.

O AP anuncia assim as suas intenções (n.º 1, 1 – 7 – 1857): «[…] o Arquivo procura fomentar a nossa gravura em madeira, dar relevo à palavra e abrir campo em que as vistas curiosas espaireçam pelas criações da arte, da natureza ou da fantasia». Os redatores concebem-no como «jornal português para portugueses […] útil ou agradável a ambos os hemisférios em que se fala a […] língua que Camões imortalizou».

Ao contrário de periódicos anteriores (v. A Ilustração)3, que tenderam a subalternizar a escrita, o AP destacará frequentemente o papel do livro que na época regressava em força com as edições «populares» de grandes escritores e com a crescente alfabetização.

Pinheiro Chagas retrata os assinantes do AP (AAP, n.º 1, 1 – 1 – 1864): «[…] procuram no Arquivo instrução e recreio no tocante aos tempos que já foram ou a coisas então originadas pelos gloriosos descobrimentos de nossos

1

Procedeu-se à atualização do texto para o Novo Acordo Ortográfico.

2

Este anuário não consta da coleção do Arquivo Pitoresco que foi digitalizada e que está em linha na Hemeroteca Digital.

3

A autora refere-se ao periódico mensal, literário e cultural A Ilustração. Jornal Universal, publicado em Lisboa nos anos de 1845 e 1846, fundado e dirigido por António Augusto Teixeira de Vasconcelos e José M. da Silva Leal (redator interino, a partir de Setembro de 1846). O

verbete, publicado no Dicionário do Romantismo Literário Português, com coordenação de

Helena de Carvalhão Buescu (Lisboa, Editorial Caminho, 1997), é igualmente da autoria de Rosa Esteves, pp. 235-236.

2

antepassados [e] a resenha dos sucessos do tempo presente, em qua a multidão dos factos […] vai contribuindo para o assombroso progresso da humanidade e da ciência».

No periódico, de cariz literário mas atento às inovações com incidência na vida

quotidiana, colaboraram Carlos José Caldeira (1811-1882), Maria del Pilar S.

Marco (1835-1895), José M. Latino Coelho (1825-1891), F. A. Rodrigues de Gusmão (1815-1888), Francisco Gomes de Amorim (1827-1891), Luís A.

Rebelo da Silva (1822-1871), M. Pinheiro Chagas (1842-1895), Júlio de Arouce (pseud. de João Elisiário de Carvalho Montenegro, 1824-1914), Alberto Teles (1840-1924), Tomás Ribeiro (1831-1901), Alberto Osório de Vasconcelos (1842-1881), Júlio de Castilho (1840-1919), Tito de Carvalho (1841-1902), A. Filipe Simões (1835-1884), entre outros.

Merecem destaque os desenhadores Nogueira da Silva, Tomás José de

Anunciação (1818-1879), João Cristino da Silva (1829-1877), Manuel Maria

Bordalo Pinheiro (1815-1880), etc. O nome completo dos gravadores vem consignado em Anuários do tempo.

O AP deu relevo à produção literária em língua portuguesa (originais e traduções) e dedicou numerosos artigos à instrução pública formal, nomeadamente ao ensino primário. Para isso contribuiu a sua ligação à Sociedade Madrépora. Fundada no Rio de Janeiro, fazia distribuir o AP em numerosas escolas de Portugal e do Brasil (1000 a 2500 exemplares de cada volume, respetivamente). A iniciativa veio a provocar prejuízos que ameaçaram a sobrevivência da empresa proprietária.

O AP foi composto na Tipografia de Castro e Irmão. A assinatura anual custava 2000 rs. E o fascículo avulso 50 rs.

Por Rosa Esteves (Universidade de Aveiro)

In Dicionário do Romantismo Literário Português (Coord. de Helena de

Carvalhão Buescu). Lisboa: Editorial Caminho, 1997, pp. 23-24.

BIBLIOGRAFIA

PEREIRA, A. X da Silva – Dicionário Jornalístico Português. Lisboa: Academia das Ciências, s.d.

Idem – Os Jornais Portugueses, Sua Filiação e Metamorfoses. Notícia Suplementar Alfabética de Todos os Periódicos Mencionados na Resenha

Cronológica do Jornalismo Português. Lisboa: Imprensa de Libânio da Silva, 1897;

3

RIBEIRO, José Silvestre – História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos de Portugal, nos Sucessivos Reinados da Monarquia (HECLA).

Lisboa: Academia Real das Ciências, s.d.